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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um pouco de história...


No Futebol actual é normal um ex-jogador passar a treinador deixando pouco espaços aos Licenciados para se afirmarem. Não defendo uma posição extremista de que os Licenciados em Desporto é que devem estar no Futebol. Sou sim, defensor de que não se cometa os mesmos erros, e que não se copie para o futebol metodologias ultrapassadas de quem foi formado erradamente e de quem não quer evoluir.
A primeira tendência, oriunda dos países do leste caracterizava-se por dividir a época desportiva em períodos para atingir “picos de forma” em determinados momentos da competição, sem estabelecer qualquer ligação à forma de jogar.
A segunda tendência oriunda do Norte da Europa deu grande importância ao desenvolvimento físico. Adveio desta teoria os testes físicos e a noção de Carga de Treino tentando perceber a forma física dos jogadores.
O conceito de treino integrado surge com os aspectos físicos, técnicos, tácticos e psicológicos a serem desenvolvidos conjuntamente.
O Professor Monge da Silva determina esta evolução como período sincrético (onde não existe diferença entre a competição e o treino), passando pelo período analítico (onde se divide em parcelas o treino técnico, táctico, físico e psicológico) e o período sintético (que se identifica com o treino integrado.)
Foi este mesmo Professor que após treinar com o treinador Lajos Barotti modificou o seu próprio conceito de treino e assumiu o erro, ao verificar que fazendo apenas treinos conjuntos e dois jogos semanais na pré-época a equipa não decaiu de forma tal como ele, preparador físico do Benfica esperava. “Verificou-se uma situação diametralmente oposta à prevista: a equipa fez uma época extraordinária, terminou fortíssima, tendo ganho o Campeonato Nacional, a Taça de Portugal e sido eliminada na meia-final da Taça dos Vencedores das Taças num jogo em que esteve fisicamente muito bem.” (Silva, Bola Magazine; nº 134, Julho 1998).
Actualmente ainda estamos na era Mourinho onde tudo se faz com bola, mas não se compreende bem o verdadeiro conceito de treino do Doutor Mourinho. São estes os erros “de repetir até ao cansaço as mesmas palavras e as mesmas ideias” que alguns ex-jogadores fazem no decurso da profissão de treinador.
Enquanto alguns treinadores já estão na nova era da periodização táctica, outros, ainda se importam com o físico e julgam que colocando a bola no treino já estão actualizados e são inovadores.
Ao treinar homens, assumimos o Homem como um todo, reconhecendo o “erro de Descartes,” e assumindo que a emoção é um mecanismo da razão, tal como António Damásio argumenta.   
O que importa é a operacionalização de um jogar, através do desenvolvimento contínuo do Modelo de Jogo, sabendo antecipadamente que os jogadores são complexos elementos em interacção. Deste modo, e partindo do princípio que a equipa é um sistema, é fundamental analisar a relação entre os seus constituintes. O jogador deve ser analisado como um todo complexo dentro de uma interacção dinâmica. A complexidade, visto muitas vezes na ciência como factor de incerteza, é defendido por Edgar Morin como a “incerteza no seio de sistemas ricamente organizados.”
A construção do Modelo de jogo pretende dinamizar a unidade, conjugando a diversidade dentro da própria unidade que são os jogadores.
É vital a qualidade individual, mas mais importante ainda é a conjugação e coordenação de todos os elementos em jogo.
É neste conceito de totalidade e complexidade, conjugando as Ciências Humanas e Naturais, que está o segredo de Mourinho, o que o distingue dos outros. A conjugação de áreas reconhecendo o jogador como um todo em busca da constante superação é o novo paradigma. Daí que, Manuel Sérgio afirme que “hoje, o conhecimento é conhecimento em rede. Por isso, quem sabe só sabe de Futebol nada sabe de futebol.”
É necessário um salto qualitativo no futebol, na sua metodologia de treino, na forma de pensar e executar. É necessário evolução e não repetição. Só com ruptura existirá mudança.
Concluindo, o jogador é um todo, que actua emotivamente e que procura a sua constante superação. Admitindo isso, cabe ao treinador rentabilizar as suas mais valias inseridas num Modelo de Jogo, num processo intencional. O Modelo referência a organização da equipa e dos seus jogadores num jogar específico que é único em cada equipa. Esta organização é construída no processo de treino face a competências que se pretende adquirir no futuro.
Na especificidade do desenvolvimento individual e da aquisição de competências por parte dos jogadores, parte-se para o fundamental que é a identificação colectiva que transforma a equipa numa unidade única.

“O treinador deverá sempre: aplicar e ao mesmo tempo pôr em causa as suas concepções teóricas e teorizar e ao mesmo tempo pôr em causa a sua práxis. Só assim haverá transformação, ou seja evolução.” (Monge da Silva)

1 comentário:

  1. EXCELENTE ARTIGO..NUM ESPAÇO..QUE FALTAVA....AO MUNDO DA BOLA...A VISÃO DE QUEM SABE..
    DE QUEM ESTEVE DO OUTRO LADO...E ESTÁ EM TODAS...
    PARABÉNS...ZÉ ANTÓNIO..VOU SEGUIR
    ATENTAMENTE...JMR

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