No Futebol actual é normal um ex-jogador passar a treinador deixando pouco espaços aos Licenciados para se afirmarem. Não defendo uma posição extremista de que os Licenciados em Desporto é que devem estar no Futebol. Sou sim, defensor de que não se cometa os mesmos erros, e que não se copie para o futebol metodologias ultrapassadas de quem foi formado erradamente e de quem não quer evoluir.
A primeira tendência, oriunda dos países do leste caracterizava-se por dividir a época desportiva em períodos para atingir “picos de forma” em determinados momentos da competição, sem estabelecer qualquer ligação à forma de jogar.
A segunda tendência oriunda do Norte da Europa deu grande importância ao desenvolvimento físico. Adveio desta teoria os testes físicos e a noção de Carga de Treino tentando perceber a forma física dos jogadores.
O conceito de treino integrado surge com os aspectos físicos, técnicos, tácticos e psicológicos a serem desenvolvidos conjuntamente.
O Professor Monge da Silva determina esta evolução como período sincrético (onde não existe diferença entre a competição e o treino), passando pelo período analítico (onde se divide em parcelas o treino técnico, táctico, físico e psicológico) e o período sintético (que se identifica com o treino integrado.)
Foi este mesmo Professor que após treinar com o treinador Lajos Barotti modificou o seu próprio conceito de treino e assumiu o erro, ao verificar que fazendo apenas treinos conjuntos e dois jogos semanais na pré-época a equipa não decaiu de forma tal como ele, preparador físico do Benfica esperava. “Verificou-se uma situação diametralmente oposta à prevista: a equipa fez uma época extraordinária, terminou fortíssima, tendo ganho o Campeonato Nacional, a Taça de Portugal e sido eliminada na meia-final da Taça dos Vencedores das Taças num jogo em que esteve fisicamente muito bem.” (Silva, Bola Magazine; nº 134, Julho 1998).
Actualmente ainda estamos na era Mourinho onde tudo se faz com bola, mas não se compreende bem o verdadeiro conceito de treino do Doutor Mourinho. São estes os erros “de repetir até ao cansaço as mesmas palavras e as mesmas ideias” que alguns ex-jogadores fazem no decurso da profissão de treinador.
Enquanto alguns treinadores já estão na nova era da periodização táctica, outros, ainda se importam com o físico e julgam que colocando a bola no treino já estão actualizados e são inovadores.
Ao treinar homens, assumimos o Homem como um todo, reconhecendo o “erro de Descartes,” e assumindo que a emoção é um mecanismo da razão, tal como António Damásio argumenta.
O que importa é a operacionalização de um jogar, através do desenvolvimento contínuo do Modelo de Jogo, sabendo antecipadamente que os jogadores são complexos elementos em interacção. Deste modo, e partindo do princípio que a equipa é um sistema, é fundamental analisar a relação entre os seus constituintes. O jogador deve ser analisado como um todo complexo dentro de uma interacção dinâmica. A complexidade, visto muitas vezes na ciência como factor de incerteza, é defendido por Edgar Morin como a “incerteza no seio de sistemas ricamente organizados.”
A construção do Modelo de jogo pretende dinamizar a unidade, conjugando a diversidade dentro da própria unidade que são os jogadores.
É vital a qualidade individual, mas mais importante ainda é a conjugação e coordenação de todos os elementos em jogo.
É neste conceito de totalidade e complexidade, conjugando as Ciências Humanas e Naturais, que está o segredo de Mourinho, o que o distingue dos outros. A conjugação de áreas reconhecendo o jogador como um todo em busca da constante superação é o novo paradigma. Daí que, Manuel Sérgio afirme que “hoje, o conhecimento é conhecimento em rede. Por isso, quem sabe só sabe de Futebol nada sabe de futebol.”
É necessário um salto qualitativo no futebol, na sua metodologia de treino, na forma de pensar e executar. É necessário evolução e não repetição. Só com ruptura existirá mudança.
Concluindo, o jogador é um todo, que actua emotivamente e que procura a sua constante superação. Admitindo isso, cabe ao treinador rentabilizar as suas mais valias inseridas num Modelo de Jogo, num processo intencional. O Modelo referência a organização da equipa e dos seus jogadores num jogar específico que é único em cada equipa. Esta organização é construída no processo de treino face a competências que se pretende adquirir no futuro.
Na especificidade do desenvolvimento individual e da aquisição de competências por parte dos jogadores, parte-se para o fundamental que é a identificação colectiva que transforma a equipa numa unidade única.
“O treinador deverá sempre: aplicar e ao mesmo tempo pôr em causa as suas concepções teóricas e teorizar e ao mesmo tempo pôr em causa a sua práxis. Só assim haverá transformação, ou seja evolução.” (Monge da Silva)
EXCELENTE ARTIGO..NUM ESPAÇO..QUE FALTAVA....AO MUNDO DA BOLA...A VISÃO DE QUEM SABE..
ResponderEliminarDE QUEM ESTEVE DO OUTRO LADO...E ESTÁ EM TODAS...
PARABÉNS...ZÉ ANTÓNIO..VOU SEGUIR
ATENTAMENTE...JMR