Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

PROCESSO DE TREINO


O treino e a forma direta de intervenção do treinador. O que fazer e como fazer tem implicações diretas sobre a forma específica de jogar.
É desta forma um aspeto chave na construção de uma equipa e na aquisição de conhecimentos.

Treinar implica sempre construir, avaliar, desconstruir, reavaliar e reconstruir. Se o Modelo, os princípios fundamentais e específicos e relacionados com o modelo são a base de como os jogadores estabelecem a relação entre eles, então essa relação tem de ser criada no treino.

Pretende-se com o treino criar um complexo de referencias individuais, setoriais ou grupais, intersetoriais e coletivas. Mourinho, que entretanto lá ganhou mais uma taça contra o seu direto adversário afirmou que “ tem que haver uma relação íntima entre aquilo que se faz no treino, o tipo de feedback que se dá e aquilo que se pede enquanto organização do jogo.

Desta forma o treino deve ensinar os traços comportamentais pretendidos, que leve a uma identidade e a uma identificação entre os jogadores. Se o modelo de jogo é o GPS do processo de construção, o treino é o caminho percorrido para chegar ao destino.

Deste modo o treino deve ser permanentemente modificado, ajustado, renovado e atualizado. A escolha de um exercício (a sua criação) deve estar diretamente ligada ao modelo. No fundo surgem algumas questões ao treinador.
O que pretendo, que comportamentos? Estes devem estar definidos no Modelo de Jogo.
Que tipo exercícios e que tipo de constrangimentos pretendo? Que comportamentos vou trabalhar? O que vou ensinar?
Pequenas questões que estão ligadas ao que quero construir. Os exercícios devem ser moldados para promover um determinado comportamento padrão (interações). Após isso o treinador deve definir claramente o que pretende para guiar o seu jogador.  Só o treino intencional é educativo.

Treinar é formar um jogar e uma equipa, tendo em consideração o que pretendo. Existem várias formas de resolver os mesmos problemas e o treino deve promover a lógica certa para esse mesmo problema. É nessa lógica que se assenta a estratégia e os princípios, que são os comportamentos que pretendemos que os nossos jogadores assumam.  
Treinar está ligado ao que se pretende atingir. Não é contudo um ato instantâneo e não tem fim.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MODELO DE JOGO


Cnofmorre a ivnetsiagaço rceente, as ltears de uma plavara pdoem ser clocoadas em qqauluer oderm dsede que a pirmiera e a útimla ltrea mnatehnam as saus psiçoeõs. As rsetnetas lerats pdoem ser clocodaas ao clahas, que lmeos na msmea. O fctao é que não lmeos ltera por ltrea,mas lmeos cdaa plavara cmoo um tdoo.

Consegues ler este parágrafo? Claro que sim. Mas porque?
Quem escreveu isto?
Como é que isto está relacionado com o futebol?

Em primeiro lugar é de comum acordo que é fundamental o treinador definir previamente os quadros de referências, regras de gestão e princípios de ação que balizem e direcionem o planeamento da equipa.

Caso não se conheça os jogadores, esses quadros de referência devem ser criados de forma geral e “adaptados”depois ao individual. Caso tenhas possibilidade cria os princípios e depois contrata os jogadores que melhor se adaptem à realidade pretendida.

Relembrando que o Futebol é um jogo coletivo de oposição entre duas equipas mas de cooperação entre os elementos da mesma equipa. Esta cooperação visa a obtenção do GOLO.

Para que esta cooperação seja feita da melhor maneira os jogadores têm de saber (e treinar) “o que fazer” e “o como fazer”, utilizando a resposta motora adequada a cada momento. Destaca-se a perceção, decisão e ação do(s) jogador(es) em cada momento do jogo.

Não basta de todo, treinar com bola… insuficiente, lato e impreciso.

O futebol é um sistema aberto (em interação com o meio) e adaptativo (capacidade de adaptação ao meio). Um sistema é um conjunto de elementos que estabelecem relações entre si, tal como uma equipa de futebol.

Quando assistimos a um jogo de futebol e a uma equipa vemos em primeiro lugar o TODO e só depois o individual (partes).

Deste modo justifica-se como conseguimos ler o parágrafo inicial. Porque vemos o TODO (a palavra em primeiro lugar). A leitura é feita pela palavra e não letra a letra

“trata-se aqui de uma noção tipicamente complexa: quando se vê a unidade, vê-se a diversidade na unidade e quando existe diversidade, procura-se a unidade”
(Morín,1990)

“conhecer as partes sem conhecer o todo, como conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes”
(Pascal 1982)
O Todo é maior que a soma das partes
Mourinho
Mas como é que o TODO pode ser maior que a soma das partes?
Simples as letras E, Q, U, I, P, A, isoladas não valem nada, juntas forma a palavra equipa. Num contexto de equipa, quando num determinado momento, a equipa reage TODA da mesma forma, objetivo do treino e do modelo de jogo, adquir um significado específico. Assim “a unidade coletiva não se reduz à justaposição dos seus elementos porque adquire uma identidade global, que “é superior à soma das suas partes constituintes “
(Morín 1997)

domingo, 8 de julho de 2012

Seleção Benfica (1990-1995)


Em primeiro lugar um esclarecimento: Sou Benfiquista.
No final de um treino e já no período de descontração, uma animada conversa levou-nos a uma “intensa” discussão sobre o melhor (pior) dos últimos anos do Benfica. De um onze, passou-se para uma plantel e demos por nós à meia noite ainda a falar de jogadores.

Lembro-me de um Benfica dominador que terminou com a revolução do Sr. Artur Jorge, após o ano do 3 a 6…

Não está em causa os Homens e/ou o seu profissionalismo. Alguns jogadores, até estão nesta lista porque a sangria não tinha sido completa ainda no período selecionado e não havia outros. Outros estão nesta lista pelas pequenas traições que fizeram ao clube. Desta pequena brincadeira, surge a minha seleção do pior do Benfica.

Seleção Benfica (1990-1995)

POSIÇÃO
NOME DO JOGADOR
ANO DE CONTRATAÇÃO
ANO DE DISPENSA
GR
TOMAS
94/95
94/95
GR
VEIGA
95/96
95/96
LATERAIS
AMARAL
94/95
94/95
LATERAIS
MARINHO
95/96
96/97
CENTRAIS
SIMANIC
93/94
93/94
CENTRAIS
PAULÃO
94/95
94/95
CENTRAIS
KING
95/96
95/96
CENTRAIS
PAREDÃO
95/96
97/98
LATERAIS
NELO
94/95
94/95
LATERAIS
PAULO PEREIRA
94/95
95/96
MÉDIOS
TAVARES
94/95
94/95
MÉDIOS
PAIVA
94/95
94/95
MÉDIOS
STANIC
94/95
94/95
MÉDIOS
BRUNO CAIRES
95/96
97/98
MÉDIOS
PAULÃO
95/96
97/98
MÉDIOS
HUGO LEAL
95/96
98/99
AVANÇADOS
LUÍZ GUSTAVO
95/96
96/97
AVANÇADOS
EDGAR
95/96
97/98
AVANÇADOS
HASSAN
95/96
97/98
AVANÇADOS
MARCELO
95/96
95/96
AVANÇADOS
CLÓVIS
94/95
94/95

domingo, 15 de abril de 2012

Fórmula do sucesso.

Todos os treinadores procuram a sua fórmula do sucesso. Parece-me lógico que estas não existem, mas tento procurar uma aproximação através.
Tratando-se o futebol de um jogo de erros, o seu sucesso depende do aproveitar do erro adversário. Deste modo a implementação de um modelo de jogo e a periodização tático-estragégica pretende a redução desses mesmos erros nos jogos e ao longo da época.

Claro está que é necessário um elevado equilíbrio organizativo e um compromisso geral em torno do objetivo central. Quando duas equipas apresentam um igual equilíbrio e compromisso o que faz a diferença no jogo é o talento. Assim a escolha dos jogadores são um dos fatores fundamentais a ter em conta no início da época.

O acaso não faz a equipa, apesar de o acaso por vezes fazer com que a bola entre ou não. Para quem não estabelece um padrão de comportamentos a equipa surge ocasionalmente. Para quem estabelece um modelo de jogo com princípios reguladores da ação nada é ao acaso.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Cascais - Vence Igreja Nova







Ninguém poderia prever o que se passou hoje. Igreja nova entra forte no jogo e marca 2 golos nos 8 primeiros minutos. O segundo de Cunha digno da 1º liga.
Chega ao terceiro de canto e o jogo poderia ter ficado por ali.
Veio intervalo e o que se passou naquela cabine, por hoje, apenas nós vamos saber, mas a verdade é que resultou.

Ritmo forte, a jogar rápido com um futebol apoiado…e o impensável aconteceu. 3-3 no final dos 90.
3-7 para o Dramático no final do prolongamento.

Grande jogo. Duas equipas que se respeitaram do princípio ao fim. E um merecido vencedor.


Apesar do destaque coletivo ficam aqui os nossos marcadores de golos.

Pedro Campos (4!!!)
Leonel (1)
Cota (1)
Dinis (1)

Final única.    

terça-feira, 13 de março de 2012

Cascais no jogo do título secundário depois da vitória sobre o Olivais Sul







 artigo de: http://linha-desportiva.com/index.php?pg=6

Numa partida quentinha, difícil para um trio de arbitragem que mostrou estar à altura dos acontecimentos que se registaram no Guilherme Pinto Basto, a formação do Dramático de Cascais, comandada pelo técnico José António, fez a festa no final do encontro depois da vitória sobre o Olivais Sul por 2-1, ao conquistarem o direito de marcarem presença no jogo do título com a equipa do Igreja Nova.
Não foi uma vitória fácil para os cascalenses, aquela em que Leonel e Nuno Colaço foram protagonistas pelos golos marcados, e que deixou algumas centenas de adeptos do Dramático de Cascais em festa. Um golo de livre, apontado nos derradeiros minutos da 1.ª parte, levou os pupilos de José António para o balneário a perderem por 0-1, um resultado que não traduzia de forma alguma o que se tinha passado no relvado durante os primeiros 45 minutos, que, diga-se, conheceu poucos momentos de futebol.


Na segunda metade tudo foi diferente, para melhor, apesar do anti-jogo dos olivalenses, numa tentativa de queimarem tempo. A jogarem mais com a bola rente à relva, os cascalenses começaram a tomar as rédeas da partida e, quando à passagem do minuto 67 Leonel aproveitou uma falha clamorosa do guarda-redes visitante para fazer o golo do empate, o castelo do Olivais Sul desmorenou-se por completo, não só pela incapacidade demonstrada para chegar à baliza de Hugo Duarte, mas sobretudo pelas cenas que os seus jogadores tiveram a seguir ao golo, que acabou numa expulsão.


A jogar praticamente no meio campo adversário, o Dramático de Cascais acabou por chegar à vitória aos 85 minutos por Nuno Colaço, um golo que voltou a originar situações menos próprias por parte dos olivalenses, seguindo-se de novo um período feio, com muitas faltas, com o árbitro a dar por concluído o encontro aos 96 minutos, não sem que Leonel tenha borrado a pintura levando o árbitro a mostrar-lhe o cartão vermelho por demora na saída de campo na altura em que era substituído, acabando por manchar uma boa actuação.


Os obreiros da subida à 1.ª divisão distrital

Ao longo do campeonato o Dramático de Cascais, para além da presença na final da 2.ª divisão, contou com o contributo de João Graça e Hugo Duarte (guarda-redes), Tiago Assunção, Bacas, Federico Rodrigues, Tiago Carvalho, Sérgio Cruz, Abílio, Bruno Almeida, Huguinho, Cannigia, Rafael Fernandes, Julien, Quota, JP, Nóvoa, Varela, Leonel, Carlos Daniel, António, Luís Fernandes, Bruno Agostinho, Nuno Colaço e Pedro Campos (jogadores de campo),
José António (treinador principal), Pedro Sabino e Pedro Sousa (treinadores adjuntos), Sérginho e Gato (treinadores de guarda-redes), Vítor Castelo e Artur (massagistas), na conquista da subida à 1.ª divisão distrital.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

perguntas e respostas

Caro Rui Carvalho (U.R. Mercês)

Em primeiro lugar, muito obrigado pelas suas palavras.
Em segundo lugar, parabéns pelo trabalho que está a desenvolver nas Mercês. Trabalhar nas condições que trabalha e estar a disputar os primeiros lugares e estar ainda na Taça. Não é sorte. É trabalho, dedicação e mérito. Na taça serei adepto das Mercês. Porquê? Porque demonstraram mais uma vez que quando se é humilde, trabalhador e lutador, consegue-se os objetivos. 
Além disso a II distrital é vista como "algo estranho", tipo INATEL, sem visibilidade quando na realidade a organização e a qualidade já tem um nível bastante aceitável.

Para si, votos de excelentes êxitos desportivos e pessoais.

Um abraço e até breve.  

domingo, 12 de fevereiro de 2012

HOJE FALO DO CORAÇÃO.

Já falei aqui neste espaço de aspetos ligados a”ser treinador”, no entanto existem outros factores importantes que raramente são abordados.

Hoje falo do coração, porque hoje, subi de divisão. E peço desde já desculpa por falar no EU, pois o eu, em mim representa muita gente, já dizia Shakespeare.

Se hoje sou treinador sénior devo-o a alguns jogadores, que viam o meu treino e gostavam dos métodos. José António e Luís Fernandes tiveram influência quando a escolha recaio sobre mim.

Depois, um grupo excelente que dava tudo em campo. Não éramos os melhores, mas tínhamos alma e ambição. Dentro de campo cada vitória era festejada como se fosse a primeira e as derrotas eram vendidas caras. A vitória na Taça de Cascais foi um grande mérito para estes atletas que davam tudo em campo.

Fernando Lopes, pai do Luís Lopes, meu jogador no Fontainhas, acompanhava os jogos e os treinos. Foi para Tires como presidente e apesar de ter falado abertamente com 3 treinadores (os 3 sabiam que podiam ser futuros treinadores do Tires) a escolha recaio sobre Luís Alegria.

Nesse mesmo ano tive muito perto de ir com Rui Dias para o Olivais e Moscavide que estava na II Liga. Já tinha trabalhado com o Rui, como estagiário no Amora e as ligações ficaram. A decisão era de iniciar-me como profissional, mesmo como adjunto ou ir para o Colégio Marista de Carcavelos leccionar Ed. Física e continuar a treinar o Fontainhas. Optei pela segunda…

Foram 2 anos (meia época + época e meia) que fiquei nas Fontainhas, sendo que fui convidado para ir para Tires.

Por respeito ao presidente, alguns jogadores e alguns sócios, do Tires, não irei falar… para já…apesar de achar que ultimamente têm surgido alguns comentários que mereciam ser no mínimo esclarecidos. No entanto uma subida e uma Taça de Cascais. Na última época, ao fim de 9 jornadas (das quais 2 em casa) optei por sair.

Realço a perpetiva de alguém de fora, sobre este assunto:

O TRABALHO DE BASE..QUALITATIVO, PLANIFICADO E ORGANIZADO QUE DEIXA EM TIRES..NUM CICLO MAGNIFICO..AS BASES ESTÃO CRIADAS. JMR (http://kings.bloguepessoal.com/282332/JOSE-ANTONIO-talhado-para-altos-voos-nao-trocava-o-JA-pelo-JM/
)

Em duas épocas 14 juniores promovidos… os objetivos alcançados sempre.

Decidi parar, por uns tempos. Estive para voltar pela mão de uma pessoa que admiro, mas ainda não era o momento…

Recomecei no Dramático, onde senti o desejo de mudança e onde me fizeram sentir útil.

E não foi preciso “andar a ligar” aos presidentes e diretores para se lembrarem de mim, especialmente quando as coisas não correm bem aos colegas. Não foi preciso ligar a “amigos” para me colocarem no mercado. Alias, amigos desses não tenho e não faço jogos. Não apareço em campos onde as coisas não estão a correr bem entre outros esquemas.

Coloquei alguns pontos estratégicos em cima da mesa. Iniciou-se a época. Recomeçou-se praticamente do zero, não foi fácil… indefinições quanto à divisão onde jogar, e logo dificuldade em recrutar jogadores. Felizmente com a ajuda de alguns amigos, especialmente um (ele sabe quem é) conseguimos recrutar bons jogadores, que se juntaram aos que já pertenciam ao plantel.

E é assim, que hoje, dia 12 de Fevereiro, 9 dias depois de completar 33 anos, festejo uma subida de divisão. Sem ajudas, interesses, empresários… apenas trabalho, como sempre. Trabalho e dedicação que se iniciaram com a minha formação académica (duas licenciaturas em desporto) e continuaram pelo campo do treino. 

Muito mérito de uma equipa, que vai desde o responsável pelo futebol ao nosso roupeiro, passando pelo meu grupo, único, com muitos valores individuais… Uma palavra para os meus amigos e Técnicos, Pedro Sousa e Pedro Sabino. Vocês foram a força...

E é assim, que aos pouco construo a minha “pequena” história. Sempre a tentar ser melhor. Cada vez que piso um campo de futebol, tudo muda. Sou outro homem. Não há nada melhor no mundo…  
Posso não ser considerado o melhor treinador da distrital, mas HOJE subimos de divisão e conseguimos este objetivo sem perder um jogo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

De jogador da bola a jogador de futebol.


Ser jogador da bola é simples. Basta dar uns pontapés e já está. A máquina 1,2, 3 do futebol fabrica craques muitas vezes sem o serem. São vários os exemplos de jogadores que chegam ao céu rapidamente, envolvidos em futuros brilhantes que depois não se verifica o seu potencial.
Potencial é outro termo que se tornou corriqueiro. Se um jogador faz um golo, tem logo potencial. Por vezes faz um passe, de cinco metros, sem pressão do adversário e tem logo potencial. Muitos são os jogadores que têm potencial e que não dão em nada. Será do potencial? Será da exigência que tem vindo a baixar na esperança de encontrar novos Cristianos, Rui Costas, Figos e Eusébios…
Para ser jogador de Futebol é preciso muito mais. Em primeiro lugar é preciso ser um Homem na sua essência da palavra. É preciso compreender a complexidade do jogo, dentro e fora do campo, entregar-se com paixão. É preciso senti-lo internamente e desejar superar-se em cada momento. São necessários sacrifícios que visam apenas um objetivo. O bem da equipa e por consequência o seu próprio bem.

O individual, nunca pode estar acima da equipa. O “Nós” sempre acima do “eu”. O Todo será sempre mais forte que as somas das partes.

Quem diria que o Pélé apenas começou a jogar quando o seu colega Vasconcelos partiu uma perna. O que seria se tivesse desistido por não concordar ser suplente… ou por outra razão qualquer.

Para ser jogador é preciso muito mais que talento (potencial)… é preciso inteligência, compreender o jogo, determinação, trabalho, solidariedade, garra, vontade, sentido coletivo e também um pouco de sorte.

Gosto de jogadores inteligentes e com talento, como todos os treinadores, mas sobre tudo:
Humildes – que respeitem o treino, que o vejam como um espaço de superação;
Verdadeiros – que sejam frontais;
Persistentes – Que não desistam à primeira adversidade;
Trabalhadores – Que coloquem em cada momento o seu melhor e que queiram em cada momento melhorar a sua prestação e a da equipa. Que queiram cada vez mais;
Determinados – Que lutem por cada oportunidade que lhe é dada;
Lutadores – Que dão a vida pela vitória, só parando de lutar quando o arbitro apita.
Solidários – Que mesmo não sendo opção treinem nos limites para melhorarem e para ajudarem o colega;

Perante a adversidade de não serem convocados ou não jogarem, olham em primeiro lugar para o que está mal em si, tentando perceber o que não fez correto e no treino a seguir dão o máximo para provar o quanto errado estava o treinador.

Não gosto de jogadores que não têm personalidade para dizer abertamente o que sentem, de uma forma construtiva. Que desistem à primeira adversidade. Que não treinam nos limites. Que olham para a cor dos coletes. Que olham para os colegas que treinam e se não são os que acham que são titulares já não dão o seu melhor. Não gosto de jogadores falsos, que dizem mal de tudo e de todos constantemente. Ao treinador dizem que a culpa é dos jogadores, aos jogadores dizem que a culpa do treinador e que contribuem para um clima de azia e de problematização.

Em suma, ser jogador da bola é uma intenção desejada, mas não trabalhada. Ser jogador de Futebol é um todo trabalhoso que só a alguns está ao alcance. O primeiro passo é mudar a atitude…

Para mim existem três tipos de jogadores.
Os que não dão o máximo.
Os que cumprem o que o treinador pede.
E os que fazem mais do que se pede...

A posse de bola: mais que um conceito, uma prática



TEXTO DE MARISA GOMES.

Actualmente sabemos que a organização das equipas assenta no modo como vai atacar quando tiver a posse da bola, como vai transitar quando perder e quando ganhar a bola e como vai defender quando não tiver a bola. Assim, vemos equipas mais ou menos organizadas nos vários momentos de jogo.

No entanto, sabemos que a Organização é um conceito que se manifesta numa diversidade infinita que resulta do modo como os jogadores-treinador desenvolvem a dinâmica colectiva. A interacção dos vários momentos é determinante para que possamos ter uma fluidez eficiente, ou seja, uma equipa que defende no seu meio campo – bloco baixo – deve perceber que a transição, quando ganha a posse da bola, tem de ganhar tempo para conseguir explorar o espaço mais avançado do terreno. Mas para que possamos ser mais práticos vamo-nos concentrar num conceito muito referido pelos treinadores actuais: o momento de posse da bola (Organização Ofensiva).

A responsabilidade deste destaque deve-se ao modelo do Barcelona que tem uma posse de bola que se revela muito eficiente. Daí a importância deste conceito porque todas as equipas passam por momento de Organização Ofensiva, ou seja, com posse da bola mas o modo como o vivem (vivenciam) é diferente. A partir do modelo do Barcelona percebemos que ter a posse da bola é uma vantagem que já Cruyff defendia ser fundamental para se conseguir vantagem no jogo. Sabendo que no jogo há apenas uma bola, se uma equipa a tiver, a outra está sem ela. Básico. Então devemos tê-la sempre para podermos controlá-la.

     Barcelona tem a bola através de uma posse segura (sem arriscar a sua perda), dinâmica (fazendo-a correr sempre) e diversa (por todo o terreno)
No entanto, esta intenção tem uma aplicabilidade prática que nos obriga a perceber que a posse da bola não é um conceito fácil porque se trata de um momento de jogo que não podemos desenquadrar dos outros. Se assim não for teremos dificuldade em fazer da bola uma vantagem, ou seja, se “jogamos” apenas um momento de jogo, ficamos em grande desvantagem contra equipas que jogam os quatro! Deste modo devemos sentir que a posse da bola é um conceito que tem um determinado valor prático. Vejamos: o Barcelona tem a bola através de uma posse segura (sem arriscar a sua perda), dinâmica (fazendo-a correr sempre) e diversa (por todo o terreno). O valor da bola para o Barcelona é ENORME porque jogam para ter a sua posse fazendo com que a exploração de espaços se faça com a bola, com os apoios constantes e com uma prioridade fundamental: sem pressa para a perder.

Compreender o Barcelona é compreender o seu valor pela posse pois é através dela que faz com que tenha a bola no último terço e não tenha pressa em a meter no espaço, em rematar quando todos estão a pedir “Chuta!”. Se realmente o Messi chutasse mais vezes de longe no último terço, se o Xavi e o Alexis o fizessem não veríamos um Barcelona preOCUPADO em explorar o último terço com a entrada dos jogadores à frente do guarda-redes, em realizar o passe no timing acertado para a bola passar, em fazer com que os seus jogadores sem bola tenham protagonismo em detrimento do espaço ou da baliza. Isto é ser Barcelona! Deste modo sabemos que a posse da bola de muitas equipas não se iguala (nem compara) ao Barcelona porque não se trata de ter em média cerca de 60% da posse da bola durante os jogos que realiza, mas do modo como o fazem - com e sem pressão, nas zonas mais recuadas e mais adiantadas. O que só é possível quando realmente se gosta muito da bola e faz com que o valor da bola seja superior à precipitação do adepto, à pressa do adversário e à ânsia em fazer a bola andar pelos espaços em disputas. Assim, não podemos comparar equipas que têm posse de bola nas zonas mais recuadas e exploram as zonas mais adiantadas com valores diferentes daqueles que são os do Barcelona, ou seja, com passes longos para a frente ou cruzamentos para a área. São conceitos diferentes e portanto não comparáveis.

     O que só é possível quando realmente se gosta muito da bola e faz com que o valor da bola seja superior à precipitação do adepto, à pressa do adversário e à ânsia em fazer a bola andar pelos espaços em disputas
Em termos práticos conseguir impedir que o Barcelona tenha a posse da bola é a forma mais directa de o confrontar. Trata-se de fazer com que não façam aquilo que os torna melhores do que os outros. Fácil? Impossível? Pensemos que o Barcelona é uma equipa muito forte nos seus valores e sabe transitar e defender de acordo com aquilo que os tornam únicos: cultura colectiva. Então, para contrariar o Barcelona tem que se impedir que tenham a bola. Quando eles a têm tem que haver uma aposta no modo como se vai tentar ganhá-la. A forma como o Barcelona conserva a sua bola “obriga” a que haja uma proximidade de vários jogadores para se fechar espaços. O timing da proximidade sobre a bola é determinante: tem de ser no momento da sua recepção. Deste modo torna-se o espaço mais pequeno e a oposição defensiva sobre a bola sempre se torna maior.

Na realidade prática das equipas sabemos que quase todos os treinadores desejariam que a sua equipa tivesse a bola todo o tempo para controlar o jogo, mas nem sempre isso é possível. Então, como desenvolver a Organização Ofensiva para se ter a posse da bola? Gostando da bola, desenvolver a capacidade para a conservar sobre pressão e com uma dinâmica posicional que permita dar grande mobilidade à bola. Deste modo, deve ser um valor que devemos desenvolver privilegiando o modo como tratamos a bola, priorizando a sua conservação e fazer dela um argumento para se disputar o jogo. A orientação prática treino-competição tem que fazer com que vivenciem esse valor através de jogos onde se organiza a dinâmica posicional da equipa em função da bola, onde se procura ter a bola e onde se valoriza essa preOCUPAÇÃO. A partir daqui devemos ter um papel determinante no modo como se interpretam as circunstâncias porque se queremos que uma equipa seja reconhecida pela sua posse não podemos insistir para que jogue para o espaço em vez de jogar para um colega, não devemos reforçar as bolas disputadas no ar em vez de jogar para o colega mais seguro. As situações de treino devem privilegiar a conservação da bola, no modo de fazer com que se torna mais fácil fazê-la circular sem a perder e fazer com que o sentido da bola seja capaz de ultrapassar a pressão adversária, ou seja, fazer com que a bola tenha espaço. As situações de jogo devem ser interpretadas de acordo com aquilo que queremos, mesmo que em determinados momentos não consigamos ter o sucesso que gostaríamos. No entanto, não devemos abdicar dos nossos valores porque são eles que nos definem….

Neste sentido sabemos que os efeitos destes valores são biológicos, ou seja, têm uma configuração determinada. Por isso é que falamos nos neurónios-espelho no último artigo pois ganhar ou perder é diferente e o modo como se ganha/perde tem que ter uma interpretação que o treinador tem de gerir. O modo como se sente aquilo que se vive pode tornar os jogadores numa equipa, pode levar a uma cultura e à prática de valores como fazem as grandes equipas. Entenda-se que não precisam de ser os mesmos valores, mas um sentimento Colectivo que se expressa no modo como jogam. No entanto, a promessa do último artigo será cumprida mais à frente.

Um bom ano!
Fonte: http://www.zerozero.pt/coluna.php?id=443