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terça-feira, 5 de abril de 2011

PERIODIZAÇÃO TÁCTICA VISTA POR OUTRO...


Apesar de já ter falado sobre isto neste Blogue, nos artigos “PREPARAÇÃO FÍSICA. O QUE É ISSO?” e no artigo “Um pouco de história...”, deixo-vos aqui um texto de Sérgio Ferreira, sobre periodização táctica. 

O jogo de futebol é uma actividade colectiva que deve ser desenvolvida e modelada ao longo do processo para que se possa tornar num «Jogar». A singularidade específica da equipa e dos seus jogadores faz com que o treinador seja uma figura determinante no seu papel catalisador do processo, dando-lhe um Sentido e portanto, uma Especificidade. Aquilo que se faz deve ser para criar uma dinâmica interactiva entre os jogadores ou seja, no desenvolvimento de uma lógica (Colectiva) de funcionamento. Esta lógica é concebida e operacionalizada pelo treinador através do modelo de jogo.

O modelo de jogo é a conjectura de jogo que o treinador tem para a equipa e vai concretizá-la ao longo do processo de treino e da competição. Deste modo, o modelo é a lógica que se pratica com os jogadores para desenvolver o Jogar da equipa. Sendo assim, o modelo é a conjectura que se desenvolve continuamente na prática tendo em conta o que se idealiza, o que se pretende atingir.
A operacionalização deste modelo não é um processo simples. Não é um processo fácil. Carece de um entendimento lógico que se orienta por vários princípios metodológicos que tornam possível a arte de harmonizar o jogo dos diferentes jogadores, para se manifestar numa cultura de acção. Contudo, a maior complexidade reside na interacção sistemática de todos. O que agrava a dificuldade, fazendo com que exija uma envolvência construtiva dos intervenientes, sobretudo do seu autor: o treinador!

A premissa da Periodização Táctica assenta no princípio da Especificidade que se define na necessidade de desenvolver ao longo do processo um Jogar através dos princípios de jogo da equipa. Assim, a Especificidade contextualiza as intenções práticas dos jogadores e do treinador no projecto colectivo, conferindo-lhe um Sentido concreto e orientado para o jogar. A singularidade de cada processo desenvolve-se numa cultura de jogo que se manifesta de forma regular e sistemática através dos princípios de interacção dos jogadores, ligando-os através de um entendimento e uma prática comum. Desta forma trabalha-se o Jogar em todos os momentos do processo. Se isto é possível, porquê perder tempo com objectivos, treinos e intenções abstractas que insultam a capacidade de aprendizagem do jogador? Assim, há a necessidade de se ensinar aquilo que se vai praticar: o jogar, através da interacção sistemática dos jogadores que com o passar do tempo se começam a entrosar espontaneamente. Contudo, isto apenas é possível quando se joga, joga e joga…

O ensino do jogo é simples mas o desenvolvimento do Jogar é complexo porque é preciso saber o que se quer ensinar. O jogo resulta do modo como os jogadores se vão conhecendo e o treino deve reconhecer isso. A partir deste aspecto, o treinador tem de definir o modo como a equipa vai jogar e posteriormente criar situações de treino nas quais isso acontece. O desenvolvimento do Jogar de acordo com esta lógica exige que o treino seja sempre jogo. Mas o jogo não pode ser sempre o mesmo jogo ou seja, o treino tem de ser jogo para que se crie um Jogar e para acelerar esse processo o treinador tem de desenvolver o princípio das Propensões. O jogo tem de ser propício ao desenvolvimento do Jogar através dos objectivos que o treinador entende como importantes. Então, se pretendemos jogar porque não treinar para jogar? Com certeza que é mais complexo mas é mais objectivo do que todos os treinos em que se falam de força, velocidade e do espírito de grupo pois é o jogo. Contudo, o problema reside no conhecer o jogo pois fala-se do jogo como se fosse algo distante, abstracto e resultante de um conjunto de esforços sem sentido. Assim, o Jogar deve ser o motivo do processo através da Especificidade Propensa para a qualidade do jogar com situações de treino e entendimento comum na apreensão construtiva dos jogadores e treinadores no processo.

O desenvolvimento do jogar em todos os momentos do processo realiza-se com a operacionalização dos princípios do jogar ou seja, a lógica subjacente à dinâmica colectiva da equipa. O valor que caracteriza o modo como a equipa joga nos vários momentos de jogo. Contudo, para se desenvolver estes princípios colectivos não podemos fazê-lo na mesma dimensão todos os dias porque provoca um desgaste que impede o crescimento e aquisição da equipa e jogadores. Assim, existe a necessidade de cumprir com o princípio da Alternância Horizontal que refere a necessidade de gerir o desenvolvimento do Jogar nos vários dias do processo para permitir uma relação saudável do binómio esforço-recuperação. Para isso, a Alternância Horizontal Especifica em cada dia da semana realiza-se com a alternância no padrão de esforço em cada dia através das várias dimensões ou escalas do jogar. Para desenvolver a dinâmica colectiva da equipa o treinador tem de incidir nas várias partes do jogar, desde as dinâmicas intersectoriais, das grupais, das sectoriais e mesmo individuais. Através da Especificidade, as incidências individuais são colectivas porque estão contextualizadas no projecto colectivo. A sua qualidade assenta na capacidade de concretização dos jogadores para que o processo seja aquisitivo e construtivo desse modelo. Assim, se os jogadores fizerem o mesmo jogo diariamente, há um maior desgaste das mesmas estruturas e portanto, há um decréscimo no desempenho dos jogadores. Deste modo, é fundamental que os jogadores tenham capacidade de desenvolver o Jogar em todos os momentos do processo e para isso é preciso descansar quando há desgaste. Só assim é possível que os jogadores tenham capacidade de superação e de ajustamento e assim intervir no jogo. Logo, o desenvolvimento do Jogar permite que os jogadores, equipa e treinador sejam objectivos e concretos, havendo a aquisição específica daquilo que define o Jogar.

O desenvolvimento do processo na Periodização Táctica realiza-se através dos princípios de jogo, com os quais o treinador modela as relações entre os jogadores. O que se manifesta num padrão comportamental que traduz o valor desse mesmo princípio na sua concretização. A Especificidade do processo faz com que o Jogar seja continuamente desenvolvido, o que promove uma adaptabilidade dos jogadores e equipa. O modo como se joga, como se interage nos vários momentos de jogo, gera uma adaptabilidade resultante das intenções e portanto, dos valores que orientam o processo.

Assim, e apesar do jogo ser aparentemente um conjunto de movimentos, reconhecemos que a manifestação do comportamento é resultante de uma intenção, de um entendimento, de uma cultura, de hábitos e de valores que individualmente vão sendo partilhados nas relações que estabelecem no modo como resolvem as dificuldades do jogo, ou seja, como jogam. Então, para que se corre continuamente, para que se desenvolvem comportamentos ou aparentes capacidades quando não têm valor sem um contexto? A capacidade de ajustamento dos jogadores apenas é possível enquanto princípio através de situações contextualizadas por uma intenção (de maior ou menor escala) porque só assim se pode conhecer ou apurar o critério. O critério é a capacidade fundamental para se ajustar às circunstâncias de acordo com uma lógica colectiva ou seja, é o que constitui a aquisição do princípio de interacção. Deste modo, de que servem os treinos, exercícios sem uma orientação ou intencionalidade? As adaptações são vazias enquanto que a adaptabilidade assenta na capacidade de escolha em função do critério, que o faz ir para além do comportamento abstracto e vazio.



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