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quarta-feira, 4 de maio de 2011

E se o Benfica fosse jogar com o Barcelona.

E se o Benfica fosse jogar com o Barcelona?
Talvez aqui ou na playstation, seja mais fácil. Mas a verdade é que cada um de nós é um “treinador”, muitas vezes de bancada, outras vezes de opinião. Como em Portugal toda a gente opina sobre o que sabe e do que não sabe vou arriscar e  fazer o mesmo, indo ao encontro do desafio lançado por João Matos Reis.  
Sou dos treinadores que acredita que já não basta dizer na palestra como é que os jogadores têm de jogar. No meu entender a equipa é preparada tacticamente no campo, com exercícios específicos que levem ao que se pretende atingir.
O Modelo é a operacionalização do processo de treino. É uma referência que guia o trabalho do treinador, contendo todos os princípios e sub – princípios do jogo. Esta organização é construída no processo de treino face a competências que se pretende adquirir no futuro.
Na especificidade do desenvolvimento individual e da aquisição de competências por parte dos jogadores, parte-se para o fundamental que é a identificação colectiva que transforma a equipa numa unidade única.
Claro está que aqui passo de uma observação empírica, visto não conhecer pessoalmente os jogadores do Benfica, a sua personalidade, o seu desempenho em campo. Tendo em conta isso, vamos ao que interessa.
Em primeiro lugar, deixar claro que, como treinador, em nenhum momento acredito que uma equipa deve alterar os seus princípios de jogo porque joga com este ou aquele adversário. Muda-se a estratégia. Os princípios organizacionais não, nem o sistema. São referenciais colectivos pelos quais se trabalha todos os dias. Alterar isto é alterar a “ciência” do treino. 

Recuperamos alguns dados do artigo “FC Barcelona – “A” equipa” (podes ler neste blogue) para caracterizar a equipa adversária.

Princípios do modelo:
 
Defesa
Principio: recuperar rapidamente a posse de bola;
Normalmente pressiona o adversário logo à saída da grande área, ou no meio campo defensivo do adversário,

Ataque
Principio: Manter a posse de bola com progressão apoiada, procurando a verticalidade do jogo;
 É notório que na zona de criação (meio campo ofensivo), alternando os corredores, sendo que na zona de finalização são objectivos jogando ao 1º e/ou 2º toque fazendo passes em ruptura procurando a baliza adversária, com os jogadores a realizarem diagonais para dentro procurando a baliza adversária .

Transição defensiva
Principio: Recuperar a bola no momento e local mais próximo da perda;
Os jogadores mais próximos da bola, saem em pressing, sendo que os centrais e o pivot defensivo, mais o lateral contrário iniciam a recuperação defensiva pelo meio. Os outros marcam espaço agrupando as linhas.

Transição ofensiva
Principio: Temos aqui dois princípios bem distintos. No meio campo defensivo procuram a progressão apoiada; com espaço nas costas procuram a ruptura nas costas da defensiva contrária.

O que são princípios?
Princípios e /ou sub - princípios de jogo são comportamentos ou padrões que a equipa revela em determinados momentos do jogo. A articulação entre os comportamentos e os padrões evidencia uma organização funcional que identifica a equipa.

Tendo em conta isto, vamos agora organizar a nossa equipa do Benfica.

Primeiro escolher os onze iniciais. Tendo em conta o que analisei este ano e vamos partir do pressuposto que o jogo em questão era único (final da Liga dos Campeões.)

 ROBERTO

MAXI PEREIRA   LUISÃO   SIDNEI   FÁBIO C.

JAVI G.

     SALVIO              CARLOS M. 
       
 GAITÁN

ÓSCAR C.    SAVIOLA         

Apenas vamos abordar mais especificamente os princípios defensivos, de modo a não realizar um artigo demasiado extenso. 


Defesa
Principio: Vamos definir que o grande princípio defensivo é a zona pressionante. Um sub – principio é fechar espaços entrelinhas e interlinhas de modo a não dar espaço à circulação de bola do Barcelona e diminuindo espaços de 1x1 defensivos. A basculação deve ser colectiva, rápida e agressiva com referencial das alas, defendendo assim o espaço interior. Em função dos diferentes referenciais defensivos, a equipa tem de dominar os diferentes ritmos de pressionar (quando a bola entra nos alas e fechamos as linhas de passe interiores), marcar espaço, porque contra o Barcelona não se deve pressionar todas as bolas (especialmente quando a bola está controlada na zona central, nos médios organizadores) ou recuar posições (quando a equipa perde a bola em situação de inferioridade ou quando existe uma variação de flanco rápida).
De frente para a nossa equipa (baliza) a equipa do Barcelona é fortíssima principalmente em criar desequilíbrios em ruptura. Por isso a equipa tem de fechar espaços e reduzir a profundidade. Javi, neste aspecto tem um papel fundamental em equilibrar a equipa na zona central. Nos momentos em que o Barcelona circula “por trás” é o momento de subir as linhas e procurar orientar a pressão (Referencial defensivo).   
Numa equipa como o Barcelona as preocupações são a bola, o espaço e o adversário. Ganhar e dominar os espaços vitais é muito mais importante que marcar este ou aquele jogador.
A equipa tem de pressionar alto em bloco, mas quando a equipa do Barcelona tem a bola controlada, temos de dar profundidade, não dando espaço para a velocidade dos seus avançados (o Barcelona também sabe e bem construir longo a partir dos seus centrais).
A nível individual e começando pela baliza, Roberto tem de dar profundidade defensiva, cobrindo os espaços relativos à grande área, para não sermos surpreendidos com rupturas rápidas que caracterizada o Barcelona.
Luisão e Sidnei têm de ser práticos e se necessário jogar a bola longe de modo a mantê-la fora da nossa zona defensiva (Luisão é especialista nisso). Fábio e Maxi devem jogar mais perto dos centrais do que é habitual. Primeiro para diminuir os espaços e segundo para dar maior cobertura e velocidade à defesa.
Deste modo os corredores têm de ser defendidos em largura no 1º momento por um dos avançados e num segundo momento pelo Carlos Martins e o Salvio que devem fechar sobre o lateral da bola. Se estiverem do lado contrário marcam espaço.
Javi equilibra. Deve limitar-se à zona central devido também à sua falta de velocidade. Este triângulo entre o pivot defensivo e centrais deve-se manter o mais próximo possível de modo a equilibrar a equipa e a não possibilitar espaços para as combinações rápidas do Barcelona.    

Gaitán deve-se preocupar com a ajuda defensiva quando os médios interiores do Barca têm a bola, mas especialmente quando a circulação recomeça pelo seu pivot defensivo. Fechar e pressionar de modo a que este a não jogue para a frente.  
Como já disse Saviola no primeiro momento deve fechar sobre o lateral da bola, partindo a pressão da zona central e depois de esta estar orientada. Depois deve juntar-se ao meio, para possibilitar ajuda defensiva a Gaitán.
Cardozo deve fechar os espaços dos centrais e limitar a acção de Piqué, que dos centrais é aquele que revela melhor qualidade da construção longa.

E no ataque e nas transições como seria? Aceito sugestões. Todas as opiniões são validas. Lanço o desafio para o debate…

3 comentários:

  1. Com a equipa assim morta não havia táctica que resistisse mister. Mas caso não fosse esse o caso penso que os laterais teriam de jogar bastante próximos dos centrais para anular os espaços que existem entre os 4 defesas. Quanto ao resto deixo para os mais entendidos no assunto, não é o meu forte.

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  2. LEIO E RELEIO ..ESTE ARTIGO...muitisimo bom...
    JMR

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  3. O Artigo está muito bom. Parabéns José António. Mas se me permites, tenho algumas questões: Se o Carlos Martins seria a melhor opção para acompanhar o Lateral com bola (no caso do Daniel Alves, penso que seria complicado; Na última fase de construção do Barça não seria mais vantajoso concentrar os jogadores na zona defensiva do meio-campo do Benfica, fechando dentro, na tentativa de impossibilitar o último passe, ao invés de encurtar espaços entre laterais e centrais?
    Quanto ao desafio da contrução de uma estratégia ofensiva é aliciante mas deverá ser ponderada.
    Mais uma vez parabéns pelo excelente artigo.
    Abraço,
    Pedro Abranja

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